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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Líderes mundiais e milhares de sul-africanos se despedem de Mandela

Líderes de todo o mundo e milhares de sul-africanos se despediram nesta terça-feira do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela numa cerimônia que contou com um aperto de mãos entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o líder cubano, Raúl Castro, que refletiu o espírito de reconciliação do herói antiapartheid.

O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, no entanto, não teve momentos de paz e harmonia. Ele foi vaiado pela multidão no estádio Soccer City, quando se preparava para falar.

A morte de Mandela na última quinta-feira aos 95 anos tem tirado a atenção dos escândalos de corrupção no governo Zuma e mostra o fosso que existe entre o primeiro presidente negro da África do Sul, um dos principais líderes do século 20, e o quarto.

"Mandela tinha uma visão. Mandela viveu essa visão", disse Funeka Gingcara-Sithole, 31 anos, presente na cerimônia. "Mas Zuma não vive o que ele prega. Ele deve fazer uma coisa honrosa e renunciar."

A recepção a Zuma não poderia contrastar mais com a dada a Obama, digna de um astro do rock. O presidente dos Estados Unidos foi um dos cerca dos 90 líderes mundiais presentes em Johanesburgo para o adeus a Mandela.

Obama estendeu no palanque a mão ao líder comunista Raúl Castro, que o cumprimentou e sorriu de volta.

O único aperto de mão conhecido entre líderes dos EUA e de Cuba desde a revolução de 1959 havia ocorrido em 2000, quando Fidel Castro cumprimentou o então presidente Bill Clinton na Organização das Nações Unidas.

DISCURSO DURO

Apesar do gesto, Obama fez um discurso duro sobre líderes que, disse ele, acolhem a luta de Mandela contra a opressão e ao mesmo tempo reprimem a oposição em seus países.

"Há muitos de nós que felizes acolhem o legado de reconciliação racial de Madiba, mas apaixonadamente resistem mesmo a reformas modestas, que diminuiriam a pobreza e a desigualdade", afirmou ele, a metros de Raúl Castro e do vice-presidente da China, Li Yuanchao.

"Há líderes demais que pregam a solidariedade com a luta de Madiba por liberdade, mas não toleram a discordância do seu próprio povo", disse ele, se referindo a Mandela pelo nome de clã do líder sul-africano.

A reação do público a Zuma --muitos apontaram os polegares para baixo e rodaram os indicadores em referência ao gesto de pedido de substituição no futebol-- é preocupante para o Congresso Nacional Africano (CNA), partido do governo, que enfrentará eleições nos próximos meses.

Embora o país com a maior economia africana tenha passado por grandes mudanças desde o fim do governo de minoria branca em 1994, ele continua um dos mais desiguais do mundo, com altos índices de pobreza, crime e desemprego.

O apoio ao CNA está em declínio, mas, apesar disso, ele deve manter o poder nas eleições do ano que vem.

CANTANDO NA CHUVA

A cerimônia no estádio onde foi disputada a final da Copa do Mundo em 2010 coincidiu com o Dia dos Direitos Humanos das Nações Unidas e foi a mais importante ocasião de uma semana dedicada ao luto a Mandela, líder que em 1993 ganhou o Prêmio Nobel da Paz.

"Ele foi mais do que um dos maiores líderes do nosso tempo. Ele foi um dos nossos maiores professores", disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante a cerimônia.

Desde a morte do líder, chove forte em Johanesburgo, um sinal, de acordo com a cultura africana, de que alguém estimado morreu e está sendo acolhido pelos ancestrais.

O clima no estádio antes da cerimônia era de alegria e celebração. Brancos e negros dançavam, tocavam a vuvuzela, corneta que ficou famosa na última Copa do Mundo, e cantavam músicas sobre a luta contra o apartheid.

"Eu estava aqui em 1990 quando ele foi libertado e estou aqui de novo para dizer adeus", disse Beauty Pule, 51 anos. "Tenho certeza de que Mandela está orgulhoso da África do Sul que ele ajudou a criar. Não é perfeita, mas fizemos grandes progressos."

Entre as celebridades presentes estavam Bono, Peter Gabriel, Charlize Theron, Naomi Campbell, o empresário Richard Branson e François Pienaar, capitão do time sul-africano campeão mundial de rugby em 1995.

Depois do evento desta terça, o corpo de Mandela permanecerá três dias no prédio em Pretória onde ele prestou juramento como presidente em 1994.

Ele será enterrado no domingo, em Qunu, sua terra natal, 700 km ao sul de Johanesburgo, numa cerimônia mais íntima.


fonte: Reuters Br
(Reportagem adicional por David Dolan e Peroshni Govender)

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