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sábado, 11 de janeiro de 2014

As "famílias" do poder

Texto de Paulo Pellegrini


Há "famílias Sarney" no Brasil inteiro, até no mundo. Grupos que influenciam nomeações, licitações, sentenças, monopolizam cargos públicos, possuem controle de parte da mídia, criam políticos e, eventualmente, também fraudam algo aqui e ali, corrompem, são corrompidos, sonegam...

O capitalismo, o sistema político, o sistema judiciário, as entranhas estatais, a política de impostos, tudo isso, em seu conceito, possibilita a ascensão de tais grupos, do Oiapoque ao Chuí, da Patagônia à Sibéria.

O que dá às populações em geral a sensação de bem-estar é um equilíbrio de forças: grupos políticos à parte, há industrialização, crescimento, diminuição da miséria, oportunidades, pluralidade de pensamento, voto livre, congressos e assembleias fiscalizadoras. Ou seja, o mesmo capitalismo palco do exercício mesquinho do poder propicia geração de riqueza capaz de amainar problemas sociais, quando se tem vontade pra isso.

O que falta ao Maranhão é esta aplicação. Maior divisão de forças, mais empresas, mais dinheiro circulando, mais trabalho da Assembleia e Câmaras, mais cuidado com as cidades. E este é um papel da sociedade, em âmbito geral: empresários, políticos, magistrados, jornalistas, comerciantes, profissionais liberais, eleitores, cidadão comum. Ficamos tanto tempo "cegos" diante do mesmo discurso que esquecemos que esses papéis podem ser cumpridos, seja lá quem "comanda" o lugar.

Grupos políticos acompanham a lógica do sistema, são apêndices do poder, e sempre haverá poder enquanto houver raça humana...

Só aqui no Maranhão que se atribui à existência de um grupo o comodismo de todo um lugar, como se nos outros lugares as pessoas não fizessem nada, mas não sofressem problema algum porque não teria uma família no poder... Não, a Itália é rica e tem Berlusconi, São Paulo é o estado mais rico do país apesar de Maluf ter sido prefeito e governador...

Não defendo práticas nebulosas, nem acho que as ações de um grupo serão necessariamente suspeitas - corrupção tem que ser investigada e condenada, sempre. Mas que é impossível que não haja grupos dominantes, por tudo o que o capital gera, isso é impossível. 

Esse tem sido o mal do pensamento opositor do Maranhão. Não iremos a lugar algum enquanto continuarmos incutindo nas mentes e corações que o atraso daqui é porque existe um grupo dominante. Sempre haverá grupo ou grupos. 

O que deve haver é o equilíbrio das demais ações em prol do social, a despeito de grupos. Quando só se clama pelo fim dos grupos e não se pensa nas formas de correr contra o vazio e inoperância das instituições, de fortalecer casas legislativas, de tornar o judiciário mais discernidor e independente, de fazer a riqueza circular, de criar empresas, empregos, tudo isso, o que acaba acontecendo é que o espaço de um grupo "derrotado" será ocupado por outro e, com o tempo, os mesmos termos "oligarquia", "família X" surgirão, com as mesmas passeatas e gritos de "fora X", "devolve o Maranhão" e tal.

Ou não havia um Vitorino antes de Sarney? Se não mudarmos a forma de pensar, a pergunta é: derrubado Sarney, quem será o próximo a ficar mais 40 anos no poder, vendo o Estado se desmilinguir?...

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