Suspensão
do Paraguai e entrada na Venezuela provocam mudanças na estrutura da
união alfandegária e deixam dúvidas sobre o seu futuro
As duas últimas semanas consolidaram a maior crise política da história do Mercosul. Decisões arbitrárias dos países membros, diferenças ideológicas e contradição nos discursos políticos colocam um grande ponto de interrogação no futuro do bloco. O que vai ocorrer a partir de agora?
A
crise começou após a suspensão de um dos fundadores da união
aduaneira, o Paraguai – penalizado pelo processo parlamentar que
tirou o ex-presidente Fernando Lugo do poder. O ato acabou
entendido por Brasil, Argentina e Uruguai como um golpe de
Estado. O afastamento foi selado em Mendonza, no dia 29 de
junho. Na mesma ocasião, o Mercosul acolheu, pela primeira vez em mais
de duas décadas, um novo membro – a Venezuela.
Bloco
Norte brasileiro terá benefícios comerciais com entrada de venezuelanos
A
entrada da Venezuela no Mercosul deve integrar os extremos geográficos
do continente sul-americano. Ou seja, o bloco vai deixar de ser
exclusivo do Cone Sul. Segundo analistas, a ampliação pode trazer ganhos
diplomáticos e comerciais para as regiões brasileiras que fazem
fronteira com o país de Hugo Chávez.
Estados
como Roraima e Amazonas, que estão na fronteira, serão os mais
beneficiados. Alimentos produzidos no norte – e até no nordeste –
brasileiro podem abastecer o mercado do país vizinho, aproveitando o
recente livre comércio entre as nações.
“A
indústria na Venezuela não é tão bem desenvolvida quanto à brasileira.
Teremos mais possibilidade de aproveitar essa escassez de mercado com
nossos produtos”, afirma Álvaro Paes Lima, professor de economia
internacional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Atrativos
Além
de beneficiar os estados brasileiros, a entrada da Venezuela no
Mercosul deixa o bloco com uma característica mais continental. A nova
configuração pode ser um atrativo para trazer países para a união
aduaneira, diz Luiz Augusto Faria, economista da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
“O
Mercosul tende a crescer e a adesão dos venezuelanos pode puxar outros
membros. O Equador já manifestou vontade de entrar, assim como os países
associados, que possuem uma posição amigável com o bloco.”
Em
menos de um mês, a configuração político-geográfica do Cone Sul mudou. O
bloco está maior, tem um país suspenso e vem apresentando divergências
entre seus membros. A primeira manifestação veio do governo uruguaio, no
início da semana passada, que alegou que a entrada do país de Chávez
foi forçada pelos brasileiros. Depois, o Paraguai anunciou que não
reconhece os venezuelanos como integrantes da zona de livre comércio.
Para
os especialistas, o maior problema é o debate de questões políticas
dentro da esfera do Mercosul. “[As decisões de Mendonza] permitem uma
conotação política que desvirtua a função do bloco, essencialmente
econômico”, explica Eduardo Saldanha, professor de direito internacional
da FAE Centro Universitário.
Para
Saldanha, a suspensão dos paraguaios é um erro, pois mistura comércio e
percepção política. Além disso, a entrada da Venezuela também soa como
tendenciosa, pois fortalece a ideologia esquerdista do bloco.
“O
Mercosul se tornou ideológico com a presença do governo de Hugo
Chávez. A Venezuela é vantajosa para os outros países, pois fortalece o
aspecto econômico, mas é perigoso imaginar que outras nações podem se
afastar do bloco por causa do novo membro”, observa Carlos Magno
Bittencourt, economista da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR).
A
decisão de suspender o Paraguai e aceitar a Venezuela também pode soar
como uma contradição, diz Bittencourt. “Chávez possui um governo, muitas
vezes, autoritário e que faz restrições aos meios de comunicação. É uma
dicotomia, para quem defendeu a suspensão paraguaia.”
A
legitimidade das ações tomadas em Mendonza, há quase duas semanas, se
encontra nos acordos selados ao longo da trajetória do Mercosul. O
Protocolo de Ushuaia (1998), por exemplo, preservava o compromisso
democrático entre os membros – elemento colocado em jogo pelos
parlamentares paraguaios.
“Desde
o Tratado de Assunção, assinado por democracias jovens como o Brasil e
a Argentina [que tinham acabado de sair de governos militares], a
questão democrática é importante para o bloco”, defende Álvaro Paes
Leme, professor de economia internacional da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos.
De
acordo com Leme, para resolver as divergências com o parlamento
paraguaio, os líderes do Mercosul precisam esperar pelas eleições, em
2013. Já as declarações do Uruguai podem ser entendidas como
ressentimentos de países pequenos, que se sentem marginalizados dentro
das decisões intergovernamentais. Segundo o professor, o mesmo ocorre
com nações menores na União Europeia.
Economia
No
aspecto econômico, é inegável que a entrada da Venezuela será
vantajosa, alega Luiz Augusto Faria, economista da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialmente para os paraguaios
e uruguaios, que precisam do potencial energético encontrado no
petróleo venezuelano.
“O
presidente Hugo Chávez pode rejeitar o modelo comercial dos Estados
Unidos e da Europa, mas mantém um bom socialismo de mercado com a China e
outros países emergentes”, diz Faria.
Para que tudo fique bem, no entanto, a crise precisa passar.

Fonte: Gazeta do Povo, 8 de julho de 2012
Fonte: fetraconspar.org.br
Suspensão
do Paraguai e entrada na Venezuela provocam mudanças na estrutura da
união alfandegária e deixam dúvidas sobre o seu futuro
As duas últimas semanas consolidaram a maior crise política da história do Mercosul. Decisões arbitrárias dos países membros, diferenças ideológicas e contradição nos discursos políticos colocam um grande ponto de interrogação no futuro do bloco. O que vai ocorrer a partir de agora?
A
crise começou após a suspensão de um dos fundadores da união
aduaneira, o Paraguai – penalizado pelo processo parlamentar que
tirou o ex-presidente Fernando Lugo do poder. O ato acabou
entendido por Brasil, Argentina e Uruguai como um golpe de
Estado. O afastamento foi selado em Mendonza, no dia 29 de
junho. Na mesma ocasião, o Mercosul acolheu, pela primeira vez em mais
de duas décadas, um novo membro – a Venezuela.
Bloco
Norte brasileiro terá benefícios comerciais com entrada de venezuelanos
A
entrada da Venezuela no Mercosul deve integrar os extremos geográficos
do continente sul-americano. Ou seja, o bloco vai deixar de ser
exclusivo do Cone Sul. Segundo analistas, a ampliação pode trazer ganhos
diplomáticos e comerciais para as regiões brasileiras que fazem
fronteira com o país de Hugo Chávez.
Estados
como Roraima e Amazonas, que estão na fronteira, serão os mais
beneficiados. Alimentos produzidos no norte – e até no nordeste –
brasileiro podem abastecer o mercado do país vizinho, aproveitando o
recente livre comércio entre as nações.
“A
indústria na Venezuela não é tão bem desenvolvida quanto à brasileira.
Teremos mais possibilidade de aproveitar essa escassez de mercado com
nossos produtos”, afirma Álvaro Paes Lima, professor de economia
internacional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Atrativos
Além
de beneficiar os estados brasileiros, a entrada da Venezuela no
Mercosul deixa o bloco com uma característica mais continental. A nova
configuração pode ser um atrativo para trazer países para a união
aduaneira, diz Luiz Augusto Faria, economista da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
“O
Mercosul tende a crescer e a adesão dos venezuelanos pode puxar outros
membros. O Equador já manifestou vontade de entrar, assim como os países
associados, que possuem uma posição amigável com o bloco.”
Em
menos de um mês, a configuração político-geográfica do Cone Sul mudou. O
bloco está maior, tem um país suspenso e vem apresentando divergências
entre seus membros. A primeira manifestação veio do governo uruguaio, no
início da semana passada, que alegou que a entrada do país de Chávez
foi forçada pelos brasileiros. Depois, o Paraguai anunciou que não
reconhece os venezuelanos como integrantes da zona de livre comércio.
Para
os especialistas, o maior problema é o debate de questões políticas
dentro da esfera do Mercosul. “[As decisões de Mendonza] permitem uma
conotação política que desvirtua a função do bloco, essencialmente
econômico”, explica Eduardo Saldanha, professor de direito internacional
da FAE Centro Universitário.
Para
Saldanha, a suspensão dos paraguaios é um erro, pois mistura comércio e
percepção política. Além disso, a entrada da Venezuela também soa como
tendenciosa, pois fortalece a ideologia esquerdista do bloco.
“O
Mercosul se tornou ideológico com a presença do governo de Hugo
Chávez. A Venezuela é vantajosa para os outros países, pois fortalece o
aspecto econômico, mas é perigoso imaginar que outras nações podem se
afastar do bloco por causa do novo membro”, observa Carlos Magno
Bittencourt, economista da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR).
A
decisão de suspender o Paraguai e aceitar a Venezuela também pode soar
como uma contradição, diz Bittencourt. “Chávez possui um governo, muitas
vezes, autoritário e que faz restrições aos meios de comunicação. É uma
dicotomia, para quem defendeu a suspensão paraguaia.”
A
legitimidade das ações tomadas em Mendonza, há quase duas semanas, se
encontra nos acordos selados ao longo da trajetória do Mercosul. O
Protocolo de Ushuaia (1998), por exemplo, preservava o compromisso
democrático entre os membros – elemento colocado em jogo pelos
parlamentares paraguaios.
“Desde
o Tratado de Assunção, assinado por democracias jovens como o Brasil e
a Argentina [que tinham acabado de sair de governos militares], a
questão democrática é importante para o bloco”, defende Álvaro Paes
Leme, professor de economia internacional da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos.
De
acordo com Leme, para resolver as divergências com o parlamento
paraguaio, os líderes do Mercosul precisam esperar pelas eleições, em
2013. Já as declarações do Uruguai podem ser entendidas como
ressentimentos de países pequenos, que se sentem marginalizados dentro
das decisões intergovernamentais. Segundo o professor, o mesmo ocorre
com nações menores na União Europeia.
Economia
No
aspecto econômico, é inegável que a entrada da Venezuela será
vantajosa, alega Luiz Augusto Faria, economista da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialmente para os paraguaios
e uruguaios, que precisam do potencial energético encontrado no
petróleo venezuelano.
“O
presidente Hugo Chávez pode rejeitar o modelo comercial dos Estados
Unidos e da Europa, mas mantém um bom socialismo de mercado com a China e
outros países emergentes”, diz Faria.
Para que tudo fique bem, no entanto, a crise precisa passar.

Fonte: Gazeta do Povo, 8 de julho de 2012
Fonte: fetraconspar.org.br
Suspensão
do Paraguai e entrada na Venezuela provocam mudanças na estrutura da
união alfandegária e deixam dúvidas sobre o seu futuro
As duas últimas semanas consolidaram a maior crise política da história do Mercosul. Decisões arbitrárias dos países membros, diferenças ideológicas e contradição nos discursos políticos colocam um grande ponto de interrogação no futuro do bloco. O que vai ocorrer a partir de agora?
A
crise começou após a suspensão de um dos fundadores da união
aduaneira, o Paraguai – penalizado pelo processo parlamentar que
tirou o ex-presidente Fernando Lugo do poder. O ato acabou
entendido por Brasil, Argentina e Uruguai como um golpe de
Estado. O afastamento foi selado em Mendonza, no dia 29 de
junho. Na mesma ocasião, o Mercosul acolheu, pela primeira vez em mais
de duas décadas, um novo membro – a Venezuela.
Bloco
Norte brasileiro terá benefícios comerciais com entrada de venezuelanos
A
entrada da Venezuela no Mercosul deve integrar os extremos geográficos
do continente sul-americano. Ou seja, o bloco vai deixar de ser
exclusivo do Cone Sul. Segundo analistas, a ampliação pode trazer ganhos
diplomáticos e comerciais para as regiões brasileiras que fazem
fronteira com o país de Hugo Chávez.
Estados
como Roraima e Amazonas, que estão na fronteira, serão os mais
beneficiados. Alimentos produzidos no norte – e até no nordeste –
brasileiro podem abastecer o mercado do país vizinho, aproveitando o
recente livre comércio entre as nações.
“A
indústria na Venezuela não é tão bem desenvolvida quanto à brasileira.
Teremos mais possibilidade de aproveitar essa escassez de mercado com
nossos produtos”, afirma Álvaro Paes Lima, professor de economia
internacional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Atrativos
Além
de beneficiar os estados brasileiros, a entrada da Venezuela no
Mercosul deixa o bloco com uma característica mais continental. A nova
configuração pode ser um atrativo para trazer países para a união
aduaneira, diz Luiz Augusto Faria, economista da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
“O
Mercosul tende a crescer e a adesão dos venezuelanos pode puxar outros
membros. O Equador já manifestou vontade de entrar, assim como os países
associados, que possuem uma posição amigável com o bloco.”
Em
menos de um mês, a configuração político-geográfica do Cone Sul mudou. O
bloco está maior, tem um país suspenso e vem apresentando divergências
entre seus membros. A primeira manifestação veio do governo uruguaio, no
início da semana passada, que alegou que a entrada do país de Chávez
foi forçada pelos brasileiros. Depois, o Paraguai anunciou que não
reconhece os venezuelanos como integrantes da zona de livre comércio.
Para
os especialistas, o maior problema é o debate de questões políticas
dentro da esfera do Mercosul. “[As decisões de Mendonza] permitem uma
conotação política que desvirtua a função do bloco, essencialmente
econômico”, explica Eduardo Saldanha, professor de direito internacional
da FAE Centro Universitário.
Para
Saldanha, a suspensão dos paraguaios é um erro, pois mistura comércio e
percepção política. Além disso, a entrada da Venezuela também soa como
tendenciosa, pois fortalece a ideologia esquerdista do bloco.
“O
Mercosul se tornou ideológico com a presença do governo de Hugo
Chávez. A Venezuela é vantajosa para os outros países, pois fortalece o
aspecto econômico, mas é perigoso imaginar que outras nações podem se
afastar do bloco por causa do novo membro”, observa Carlos Magno
Bittencourt, economista da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR).
A
decisão de suspender o Paraguai e aceitar a Venezuela também pode soar
como uma contradição, diz Bittencourt. “Chávez possui um governo, muitas
vezes, autoritário e que faz restrições aos meios de comunicação. É uma
dicotomia, para quem defendeu a suspensão paraguaia.”
A
legitimidade das ações tomadas em Mendonza, há quase duas semanas, se
encontra nos acordos selados ao longo da trajetória do Mercosul. O
Protocolo de Ushuaia (1998), por exemplo, preservava o compromisso
democrático entre os membros – elemento colocado em jogo pelos
parlamentares paraguaios.
“Desde
o Tratado de Assunção, assinado por democracias jovens como o Brasil e
a Argentina [que tinham acabado de sair de governos militares], a
questão democrática é importante para o bloco”, defende Álvaro Paes
Leme, professor de economia internacional da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos.
De
acordo com Leme, para resolver as divergências com o parlamento
paraguaio, os líderes do Mercosul precisam esperar pelas eleições, em
2013. Já as declarações do Uruguai podem ser entendidas como
ressentimentos de países pequenos, que se sentem marginalizados dentro
das decisões intergovernamentais. Segundo o professor, o mesmo ocorre
com nações menores na União Europeia.
Economia
No
aspecto econômico, é inegável que a entrada da Venezuela será
vantajosa, alega Luiz Augusto Faria, economista da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialmente para os paraguaios
e uruguaios, que precisam do potencial energético encontrado no
petróleo venezuelano.
“O
presidente Hugo Chávez pode rejeitar o modelo comercial dos Estados
Unidos e da Europa, mas mantém um bom socialismo de mercado com a China e
outros países emergentes”, diz Faria.
Para que tudo fique bem, no entanto, a crise precisa passar.

Fonte: Gazeta do Povo, 8 de julho de 2012
Fonte: fetraconspar.org.br
Decisões políticas do Mercosul causam pior crise do bloco regional
Suspensão
do Paraguai e entrada na Venezuela provocam mudanças na estrutura da
união alfandegária e deixam dúvidas sobre o seu futuro
As duas últimas semanas consolidaram a maior crise política da história do Mercosul. Decisões arbitrárias dos países membros, diferenças ideológicas e contradição nos discursos políticos colocam um grande ponto de interrogação no futuro do bloco. O que vai ocorrer a partir de agora?
A
crise começou após a suspensão de um dos fundadores da união
aduaneira, o Paraguai – penalizado pelo processo parlamentar que
tirou o ex-presidente Fernando Lugo do poder. O ato acabou
entendido por Brasil, Argentina e Uruguai como um golpe de
Estado. O afastamento foi selado em Mendonza, no dia 29 de
junho. Na mesma ocasião, o Mercosul acolheu, pela primeira vez em mais
de duas décadas, um novo membro – a Venezuela.
Bloco
Norte brasileiro terá benefícios comerciais com entrada de venezuelanos
A
entrada da Venezuela no Mercosul deve integrar os extremos geográficos
do continente sul-americano. Ou seja, o bloco vai deixar de ser
exclusivo do Cone Sul. Segundo analistas, a ampliação pode trazer ganhos
diplomáticos e comerciais para as regiões brasileiras que fazem
fronteira com o país de Hugo Chávez.
Estados
como Roraima e Amazonas, que estão na fronteira, serão os mais
beneficiados. Alimentos produzidos no norte – e até no nordeste –
brasileiro podem abastecer o mercado do país vizinho, aproveitando o
recente livre comércio entre as nações.
“A
indústria na Venezuela não é tão bem desenvolvida quanto à brasileira.
Teremos mais possibilidade de aproveitar essa escassez de mercado com
nossos produtos”, afirma Álvaro Paes Lima, professor de economia
internacional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Atrativos
Além
de beneficiar os estados brasileiros, a entrada da Venezuela no
Mercosul deixa o bloco com uma característica mais continental. A nova
configuração pode ser um atrativo para trazer países para a união
aduaneira, diz Luiz Augusto Faria, economista da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
“O
Mercosul tende a crescer e a adesão dos venezuelanos pode puxar outros
membros. O Equador já manifestou vontade de entrar, assim como os países
associados, que possuem uma posição amigável com o bloco.”
Em
menos de um mês, a configuração político-geográfica do Cone Sul mudou. O
bloco está maior, tem um país suspenso e vem apresentando divergências
entre seus membros. A primeira manifestação veio do governo uruguaio, no
início da semana passada, que alegou que a entrada do país de Chávez
foi forçada pelos brasileiros. Depois, o Paraguai anunciou que não
reconhece os venezuelanos como integrantes da zona de livre comércio.
Para
os especialistas, o maior problema é o debate de questões políticas
dentro da esfera do Mercosul. “[As decisões de Mendonza] permitem uma
conotação política que desvirtua a função do bloco, essencialmente
econômico”, explica Eduardo Saldanha, professor de direito internacional
da FAE Centro Universitário.
Para
Saldanha, a suspensão dos paraguaios é um erro, pois mistura comércio e
percepção política. Além disso, a entrada da Venezuela também soa como
tendenciosa, pois fortalece a ideologia esquerdista do bloco.
“O
Mercosul se tornou ideológico com a presença do governo de Hugo
Chávez. A Venezuela é vantajosa para os outros países, pois fortalece o
aspecto econômico, mas é perigoso imaginar que outras nações podem se
afastar do bloco por causa do novo membro”, observa Carlos Magno
Bittencourt, economista da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR).
A
decisão de suspender o Paraguai e aceitar a Venezuela também pode soar
como uma contradição, diz Bittencourt. “Chávez possui um governo, muitas
vezes, autoritário e que faz restrições aos meios de comunicação. É uma
dicotomia, para quem defendeu a suspensão paraguaia.”
A
legitimidade das ações tomadas em Mendonza, há quase duas semanas, se
encontra nos acordos selados ao longo da trajetória do Mercosul. O
Protocolo de Ushuaia (1998), por exemplo, preservava o compromisso
democrático entre os membros – elemento colocado em jogo pelos
parlamentares paraguaios.
“Desde
o Tratado de Assunção, assinado por democracias jovens como o Brasil e
a Argentina [que tinham acabado de sair de governos militares], a
questão democrática é importante para o bloco”, defende Álvaro Paes
Leme, professor de economia internacional da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos.
De
acordo com Leme, para resolver as divergências com o parlamento
paraguaio, os líderes do Mercosul precisam esperar pelas eleições, em
2013. Já as declarações do Uruguai podem ser entendidas como
ressentimentos de países pequenos, que se sentem marginalizados dentro
das decisões intergovernamentais. Segundo o professor, o mesmo ocorre
com nações menores na União Europeia.
Economia
No
aspecto econômico, é inegável que a entrada da Venezuela será
vantajosa, alega Luiz Augusto Faria, economista da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialmente para os paraguaios
e uruguaios, que precisam do potencial energético encontrado no
petróleo venezuelano.
“O
presidente Hugo Chávez pode rejeitar o modelo comercial dos Estados
Unidos e da Europa, mas mantém um bom socialismo de mercado com a China e
outros países emergentes”, diz Faria.
Para que tudo fique bem, no entanto, a crise precisa passar.

Fonte: Gazeta do Povo, 8 de julho de 2012
Fonte: fetraconspar.org.br
Suspensão
do Paraguai e entrada na Venezuela provocam mudanças na estrutura da
união alfandegária e deixam dúvidas sobre o seu futuro
As duas últimas semanas consolidaram a maior crise política da história do Mercosul. Decisões arbitrárias dos países membros, diferenças ideológicas e contradição nos discursos políticos colocam um grande ponto de interrogação no futuro do bloco. O que vai ocorrer a partir de agora?
A
crise começou após a suspensão de um dos fundadores da união
aduaneira, o Paraguai – penalizado pelo processo parlamentar que
tirou o ex-presidente Fernando Lugo do poder. O ato acabou
entendido por Brasil, Argentina e Uruguai como um golpe de
Estado. O afastamento foi selado em Mendonza, no dia 29 de
junho. Na mesma ocasião, o Mercosul acolheu, pela primeira vez em mais
de duas décadas, um novo membro – a Venezuela.
Bloco
Norte brasileiro terá benefícios comerciais com entrada de venezuelanos
A
entrada da Venezuela no Mercosul deve integrar os extremos geográficos
do continente sul-americano. Ou seja, o bloco vai deixar de ser
exclusivo do Cone Sul. Segundo analistas, a ampliação pode trazer ganhos
diplomáticos e comerciais para as regiões brasileiras que fazem
fronteira com o país de Hugo Chávez.
Estados
como Roraima e Amazonas, que estão na fronteira, serão os mais
beneficiados. Alimentos produzidos no norte – e até no nordeste –
brasileiro podem abastecer o mercado do país vizinho, aproveitando o
recente livre comércio entre as nações.
“A
indústria na Venezuela não é tão bem desenvolvida quanto à brasileira.
Teremos mais possibilidade de aproveitar essa escassez de mercado com
nossos produtos”, afirma Álvaro Paes Lima, professor de economia
internacional da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Atrativos
Além
de beneficiar os estados brasileiros, a entrada da Venezuela no
Mercosul deixa o bloco com uma característica mais continental. A nova
configuração pode ser um atrativo para trazer países para a união
aduaneira, diz Luiz Augusto Faria, economista da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
“O
Mercosul tende a crescer e a adesão dos venezuelanos pode puxar outros
membros. O Equador já manifestou vontade de entrar, assim como os países
associados, que possuem uma posição amigável com o bloco.”
Em
menos de um mês, a configuração político-geográfica do Cone Sul mudou. O
bloco está maior, tem um país suspenso e vem apresentando divergências
entre seus membros. A primeira manifestação veio do governo uruguaio, no
início da semana passada, que alegou que a entrada do país de Chávez
foi forçada pelos brasileiros. Depois, o Paraguai anunciou que não
reconhece os venezuelanos como integrantes da zona de livre comércio.
Para
os especialistas, o maior problema é o debate de questões políticas
dentro da esfera do Mercosul. “[As decisões de Mendonza] permitem uma
conotação política que desvirtua a função do bloco, essencialmente
econômico”, explica Eduardo Saldanha, professor de direito internacional
da FAE Centro Universitário.
Para
Saldanha, a suspensão dos paraguaios é um erro, pois mistura comércio e
percepção política. Além disso, a entrada da Venezuela também soa como
tendenciosa, pois fortalece a ideologia esquerdista do bloco.
“O
Mercosul se tornou ideológico com a presença do governo de Hugo
Chávez. A Venezuela é vantajosa para os outros países, pois fortalece o
aspecto econômico, mas é perigoso imaginar que outras nações podem se
afastar do bloco por causa do novo membro”, observa Carlos Magno
Bittencourt, economista da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR).
A
decisão de suspender o Paraguai e aceitar a Venezuela também pode soar
como uma contradição, diz Bittencourt. “Chávez possui um governo, muitas
vezes, autoritário e que faz restrições aos meios de comunicação. É uma
dicotomia, para quem defendeu a suspensão paraguaia.”
A
legitimidade das ações tomadas em Mendonza, há quase duas semanas, se
encontra nos acordos selados ao longo da trajetória do Mercosul. O
Protocolo de Ushuaia (1998), por exemplo, preservava o compromisso
democrático entre os membros – elemento colocado em jogo pelos
parlamentares paraguaios.
“Desde
o Tratado de Assunção, assinado por democracias jovens como o Brasil e
a Argentina [que tinham acabado de sair de governos militares], a
questão democrática é importante para o bloco”, defende Álvaro Paes
Leme, professor de economia internacional da Universidade do Vale do Rio
dos Sinos.
De
acordo com Leme, para resolver as divergências com o parlamento
paraguaio, os líderes do Mercosul precisam esperar pelas eleições, em
2013. Já as declarações do Uruguai podem ser entendidas como
ressentimentos de países pequenos, que se sentem marginalizados dentro
das decisões intergovernamentais. Segundo o professor, o mesmo ocorre
com nações menores na União Europeia.
Economia
No
aspecto econômico, é inegável que a entrada da Venezuela será
vantajosa, alega Luiz Augusto Faria, economista da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialmente para os paraguaios
e uruguaios, que precisam do potencial energético encontrado no
petróleo venezuelano.
“O
presidente Hugo Chávez pode rejeitar o modelo comercial dos Estados
Unidos e da Europa, mas mantém um bom socialismo de mercado com a China e
outros países emergentes”, diz Faria.
Para que tudo fique bem, no entanto, a crise precisa passar.

Fonte: Gazeta do Povo, 8 de julho de 2012
Fonte: fetraconspar.org.br
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