Uma borboleta que entra voando na sala de aula pode ser a
ideia inicial de uma boa prática pedagógica. Mais de duas décadas depois, a
professora Ana Maria Camillo, do Centro Educacional Municipal Antônio Porto
Burda, em Fraiburgo, Santa Catarina, lembrou a lição que recebeu no magistério.
No ano passado, as borboletas amarelas que pousavam numa árvore próxima
alteraram a rotina escolar de uma turma de terceiro ano.
Após visita ao mundo da leitura na biblioteca da escola, a
professora e seus alunos, de 8 e 9 anos, voltavam para a sala de aula quando
encontraram uma pequena lagarta. Curiosas, as crianças a levaram para a sala de
aula. “Eles observaram o invertebrado e o desenharam, mas quando foram
devolvê-la para a árvore, descobriram um verdadeiro laboratório”, conta Ana
Maria.
A árvore no pátio da
escola, florida de amarelo, abrigava outras lagartas e casulos. A professora
teve então a ideia de elaborar projeto pedagógico e abordar com os alunos o
tema da metamorfose. Dez lagartas foram levadas à sala de aula e passaram a
viver, inicialmente, em potes de sorvete, com galhos da árvore para se
alimentar e gravetos de churrasco para fixar os casulos. Os potes foram
fechados com plástico comum de cozinha, com pequenos furos.
“Começamos então a
integrar a metamorfose com outras atividades pedagógicas”, diz a professora, de
41 anos. As crianças leram Romeu e Julieta, de Ruth Rocha, sobre a amizade de
duas borboletas, e resolveram questões matemáticas com o tema. “Fomos pesquisar
na internet sobre as etapas da transformação da lagarta em borboleta, o que
resultou num livro com textos curtos”, explica Ana Maria.
“Eu não conseguia
encerrar o projeto porque os alunos estavam muito animados, até o dia em que
conseguiram ver a metamorfose de uma lagarta em borboleta amarela, como as
flores da árvore da escola”, conta a professora. Ela lembrou, emocionada, a
lição na época em que era estudante do magistério. “Dou aulas há 22 anos, e
esse foi um projeto muito emocionante”, revela. “Nessa prática, estão todos os
meus 22 anos de professora. A lição da borboleta que entra na sala de aula e se
transforma em situação didática ficou gravada em mim.”
Iniciado no começo do
ano, o projeto foi encerrado com representação teatral baseada na história do
livro infantil de Ruth Rocha. A metamorfose foi filmada e virou matéria de
jornal na cidade, de 37 mil habitantes. “O projeto não ficou restrito à sala de
aula: alunos menores e maiores de outras turmas também ficaram curiosos”,
salientou a professora. “Ver as crianças se espantarem com o novo, com a
pequena coisa, foi gratificante.”
Encantamento — Em seu
blogue, a professora destaca frases do educador e escritor Rubem Alves. “A alma
é uma borboleta... há um instante em que uma voz nos diz que chegou o momento
de uma grande metamorfose...” , diz Alves.
O autor afirma ser
fácil educar a criança porque ela tem um olhar de encantamento, uma qualidade
de olhar que os gregos consideravam o início do pensamento. “E isso é verdade;
não precisamos de grandes projetos. Quando os alunos se encantam, você consegue
ensinar a eles o que quiser”, afirma Ana Maria. “Por isso, gosto de trabalhar
com projetos que unem música e teatro. Sinto que alunos ficam inteiros e dão ao
professor aquela emoção de estarem interessados em aprender”, ensina. “Não é
igual a uma aula puramente teórica.”
O projeto da
professora foi premiado em 2012 pelo Ministério da Educação na sexta edição do
Prêmio Professores do Brasil, que reconhece boas práticas de ensino. O trabalho
pode ser conferido no blogue que Ana Maria mantém na internet. O vídeo De
Lagarta a Borboleta, postado no You Tube pela professora, mostra o borboletário
criado na sala de aula.