A rede social havia introduzido uma proibição temporária em maio após
denúncias de que esses vídeos podem causar danos psicológicos a longo prazo.
A empresa americana confirmou que
agora acredita que seus usuários devem ser livres para assistir e condenar tais
vídeos. Mas acrescentou que estava considerando o uso de avisos para alertar
sobre o conteúdo.
Arthur Cassidy, um ex-psicólogo que
coordena uma filial do Yellow Ribbon Program, organização que trabalha com a
prevenção de suicídios na Irlanda do Norte, condenou a ação.
"São necessários apenas alguns
segundos de exposição a este tipo de material para deixar um traço permanente,
principalmente na mente de um jovem", disse Cassidy.
"Quanto mais gráfico e colorido
for o material, mais psicologicamente destrutivo ele é."
Dois dos conselheiros de segurança
oficiais da empresa também criticaram a decisão.
O Facebook permite que qualquer pessoa
com 13 anos ou mais crie uma conta.
Hoje, os termos e condições da rede
afirmam que fotos ou vídeos que "glorificam a violência", além de
outros materiais proibidos, como por exemplo "exposição total dos
seios" de uma mulher, serão removidos.
Novas regras
A BBC foi alertada sobre a mudança na
política do Facebook por um leitor que disse que a empresa estava se recusando
a remover uma página que mostra um vídeo de um homem mascarado matando uma
mulher, que, acredita-se, ter sido filmado no México.
O vídeo foi publicado na semana
passada sob o título "Desafio: Qualquer pessoa pode assistir a este
vídeo?"
"Remova este vídeo! Jovens com
mentes inocentes não devem ver isso!", escreveu um usuário na seção de
comentários.
"Isso é absolutamente horrível,
desagradável e precisa ser removido...há muitos jovens que podem ver isso.
Tenho 23 anos e estou muito perturbado depois de assistir dois segundos",
escreveu outro.
A rede social confirmou mais tarde que
estava permitindo que tal material fosse publicado novamente.
"Há muito tempo que o Facebook é
um lugar que as pessoas usam para compartilhar suas experiências,
particularmente quando estas são ligadas a eventos controversos, tais como
violações de direitos humanos, atos de terrorismo e outros eventos
violentos", disse um porta-voz.
"As pessoas estão compartilhando
este vídeo no Facebook para condená-lo. Se o vídeo estivesse sendo celebrado,
ou suas ações estivessem sendo incentivadas, a nossa abordagem seria
diferente."
"No entanto, uma vez que algumas
pessoas se opõem a natureza gráfica do vídeo, estamos trabalhando para dar às
pessoas mais controle sobre o conteúdo que elas veem. Isso pode incluir o aviso
com antecedência de que a imagem que eles estão prestes a ver contém conteúdo
gráfico."
Preocupação
O Facebook originalmente retirou
vídeos que mostravam decapitação depois que o Family Online Safety Institute -
que faz parte do Conselho de Assessores de Segurança da empresa – concluiu que
estes seriam "inaceitáveis".
O chefe da instituição, Stephen
Balkam, disse à BBC que ficou surpreso com a recente mudança.
"Eu esperava que houvesse um
aviso disso", disse ele.
"Eu fui ver o vídeo e não havia
um aviso de advertência, e nada que condenasse seu conteúdo. Esta lá, e a primeira
imagem que vemos é a de um homem segurando a cabeça de uma mulher."
"Não estou feliz com o fato de
que este tipo de vídeo voltou a ser postado sem qualquer aviso. Pretendo
levantar esta questão com o Facebook."
Outro membro do conselho, o Childnet
International, também disse estar preocupado.
"Esse tipo de conteúdo deve ser
retirado", disse seu presidente-executivo, Will Gardner.
"Há o argumento de que existe uma
necessidade de levantar questões sobre o que está acontecendo ao redor do
mundo, mas certos conteúdos são horríveis."
"Gostaríamos de ver medidas sendo
tomadas para tentar proteger as pessoas de verem tal conteúdo."
'Profundamente chocantes'
Vídeos que mostram pessoas sendo
decapitadas estão disponíveis em outros lugares na internet - inclusive no
YouTube - mas os críticos levantaram a questão de que o sistema de alimentação
de notícias do Facebook e outras funções de compartilhamento significam que a
rede social é particularmente propícia à disseminação desse tipo de material.
"Eu tenho visto alguns desses
vídeos - são profundamente chocantes", disse John Carr, que faz parte do
conselho executivo do Council on Child Internet Safety na Grã-Bretanha.
"Esses vídeos vão abastecer
inúmeros pesadelos entre os jovens e os mais sensíveis."
A ideia do Facebook de emitir uma
proibição geral tinha, no entanto, preocupado ativistas pela liberdade de
expressão que sugerem ser responsabilidade dos pais - e não da empresa - proteger
as crianças de conteúdos na internet.
No entanto, o grupo francês de
direitos digitais La Quadrature du Net disse que ainda estava preocupado com o
fato do Facebook ter o direito de retirar vídeos caso não concordem com a forma
com que eles foram apresentados.
"Isso mostra o quanto o Facebook
tem poder de decidir o que vai ou não vai ser colocado em sua rede", disse
o cofundador da organização Jeremie Zimmermann.
"O Facebook desempenha um papel
profundamente antidemocrático quando faz qualquer tipo de escolha, quaisquer
que sejam as boas razões que ele usa para tomar a decisão. De acordo com o
estado de direito, apenas uma autoridade judicial deve ser capaz de restringir
as liberdades fundamentais."
Fonte: BBC Brasil
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