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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Oi e Portugal Telecom se unem e esperam sinergias de R$5,5 bi

A Oi e a Portugal Telecom acertaram uma fusão que prevê um aumento de capital de pelo menos 7 bilhões de reais da empresa brasileira, no mais recente movimento de consolidação no setor de telecomunicações global.

A operação, anunciada na madrugada desta quarta-feira, criará a CorpCo, uma multinacional com cerca de 100 milhões de clientes e com previsão de sinergias de cerca de 5,5 bilhões de reais.

Após a conclusão do negócio, os acionistas da Portugal Telecom terão entre 36,6 e 39,6 por cento da CorpCo, com a maioria do capital nas mãos de investidores brasileiros, entre eles o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e grandes fundos de pensão.

A transação prevê a incorporação da Portugal Telecom pela CorpCo e simplificará a complexa estrutura societária atual das duas empresas. O novo grupo terá capital pulverizado, sem a figura de grupo de controle.

O acordo acontece pouco tempo após a Oi ter feito grande corte em sua política de dividendos, pressionada por uma dívida líquida de quase 30 bilhões de reais e necessidade de acelerar investimentos no Brasil.

O mercado especulava há meses sobre a união das duas companhias, em apostas reforçadas a partir de junho quando o engenheiro Zeinal Bava, 47, deixou o comando da Portugal Telecom para liderar a Oi.

A operação é anunciada cerca de uma semana depois que a espanhola Telefónica fechou acordo com os outros acionistas da holding controladora da Telecom Italia para aumentar participação no grupo italiano. No Brasil, a Telefónica controla a Vivo e a Telecom Italia é dona da TIM Participações, ambas rivais da Oi.

Também acontece no mês seguinte a um importante movimento no setor de telefonia nos Estados Unidos, quando a Verizon Communications fechou a compra dos 45 por cento restantes na Verizon Wireless que pertenciam à britânica Vodafone por 130 bilhões de dólares.

"Nosso setor é expoente máximo da globalização. Vamos criar hoje uma empresa com ambição global. Se isso não for feito, é difícil manter competitividade", disse Bava a jornalistas, quando perguntado sobre os recentes eventos de fusões e aquisições na indústria.

Ele afirmou que a previsão de sinergias a serem geradas com a união de Oi e Portugal Teleocm é conservadora. O executivo está confiante que a CorpCo terá fluxo de caixa livre e reduzirá endividamento.

"O foco da gestão vai continuar a ser garantir Capex (investimento) alinhado com geração de caixa. A redução de dívida continuará sendo imperativo estratégico no futuro", declarou o executivo no Rio de Janeiro, onde ficará a sede da empresa combinada.

Oi e Portugal Telecom tiveram juntas receita de 37,45 bilhões de reais em 2012, com geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) de 12,77 bilhões de reais. O endividamento líquido das duas atualmente é superior a 40 bilhões de reais, ou 3,3 vezes o Ebitda.

O ministro brasileiro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que a união de Oi e Portugal Telecom é "a consolidação de uma estratégia que já vinha se desenhando".

A Portugal Telecom entrou no capital da Oi e em seu bloco de controle em 2010, após ter vendido a participação que tinha na Vivo para a Telefónica.

Oi e Portugal Telecom esperam ter as autorizações regulatórias para a união no quarto trimestre deste ano, com o aumento de capital da Oi e a conclusão do negócio ocorrendo na primeira metade de 2014.

Uma fonte da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) disse à Reuters que a aprovação do negócio deverá "ser simples", por ter pouco efeito do ponto de vista concorrencial. "Não há sobreposição. A Portugal Telecom já era uma das controladoras (da Oi)", disse a fonte da agência.

A transação precisará ser aprovada também pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Na bolsa paulista, as ações preferenciais e ordinárias da Oi avançavam 10 e 7 por cento às 12h01, respectivamente, enquanto o Ibovespa subia 0,44 por cento. As ações da Portugal Telecom na Bolsa de Lisboa chegaram a disparar mais de 20 por cento, mas reduziram a alta para 6,7 por cento.

"Entre os pontos positivos, resolve problema de aumento de capital que teria que fazer a Telemar (Oi) no ano que vem", afirmou o analista Guido dos Santos, do Caixa Banco de Investimento, de Portugal. "Acho que quem perde é Portugal, já que a nova empresa vai ser brasileira, mas isso faz sentido, o mercado lá é enorme, com maior potencial de crescimento."

Já o analista Pedro Oliveira, do BPI, não mostrou estar convencido sobre a fusão, por avaliar que ela não resolve o problema do endividamento. "A nova empresa terá um índice de alavancagem financeira de 3,3 vezes (o Ebitda), o que é muito alto para o setor. E com perspectivas de aumentar, já que o Ebitda no segundo semestre (2013) no Brasil e Portugal deverá continuar sob pressão", disse.

AUMENTO DE CAPITAL

Segundo os termos do acordo, além da incorporação da Portugal Telecom, haverá um aumento de capital mínimo da Oi de 7 bilhões de reais, "com objetivo de alcançar 8 bilhões de reais, em dinheiro, com vistas a melhorar a flexibilidade do balanço da CorpCo".

Os atuais acionistas da Telemar Participações e um veículo de investimento administrado e gerido pelo BTG Pactual participarão do aumento de capital com subscrição de cerca de 2 bilhões de reais.

A CorpCo terá ações listadas no segmento Novo Mercado da Bovespa, na bolsa de Nova York e na NYSE Euronext Lisbon, e terá apenas ações ordinárias (com direito a voto). A Oi será uma subsidiária integral da CorpCo, que vai incorporar a Portugal Telecom.

Cada ação ordinária da Oi será substituída por 1 ação da CorpCo e cada 1,0857 preferencial da empresa brasileira por 1 ação da CorpCo. Cada ação da Portugal Telecom será trocada por 0,6330 ação da CorpCo e 2,2911 euros equivalentes em ações da CorpCo ao mesmo preço do aumento de capital da Oi.

fonte: Reuters BR
(Reportagem adicional de Leonardo Goy, em Brasília, e Sérgio Gonçalves, em Lisboa)

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