Raíla Maciel
... e se não ousarmos
fazê-la teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.
A frase clássica de
Fernando Pessoa já diz muito para os que sabem ler “além das palavras”;
assim como o livro de Willian P. Youg – mais conhecido pela sua obra A Cabana.
A frase e o livro
trazem sugestões desafiadoras, que podem até assustar quem ainda não se sente
preparado para fazer essa tal travessia da vida. Mas, se você é um desses, não
se preocupe, pois a experiência mostra que tudo acontece na hora certa. Eu, por exemplo, ganhei esse livro no Natal de
2013, quando nem imaginava as reviravoltas que estavam por vir. Mais de ano passou até que resolvesse tirá-lo da estante. E não poderia haver
momento mais ideal para absorver as lições dessa obra.
A Travessia conta a
história de Tony, em empresário rico, frio e solitário que só confiava em pessoas
que já estavam mortas. Ele sofreu um AVC e ficou em coma. Enquanto seu corpo
estava na cama de um hospital entre a vida e a morte, o espírito de Tony viveu
experiências inacreditáveis (como o encontro com Jesus, em pessoa), que o confrontaram com
diversos conceitos que ele construiu ao longo da vida, que o afastaram da
divindade e de tudo que ele amava.
Tony, que até então
acreditava que tudo acabava com a morte, se depara com o que preferia ignorar e
é levado a rever suas ideias. Nesse processo, o personagem passa por momentos
de desespero, pois vê suas bases sendo abaladas e destruídas; conhece as
experiências de outras pessoas que se entregam ao que ele mais repelia; e é
levado assim a aceitar a verdade incontestável de que existe um Deus que olha
por nós, ainda que não queiramos reconhecer a Sua presença e nos consideremos
fortes e suficientes demais para aceitar algo superior a nós mesmos.
Tony acreditava em
uma realidade que não era a Verdade. Esse era o seu inferno. Nós também vivemos
nossos infernos ao construir muralhas, quando temos dores; ao supervalorizar o
sofrimento; ao resistir à mudança; permanecer no erro e, principalmente, ao
negar o que é parte de nós.
Um homem de 45 anos
tinha feito do seu próprio coração um deserto, uma terra tão infértil, onde
flores não cresciam e onde só Jesus, com seu Amor incondicional, conseguiu
enxergar um potencial positivo. Nós também fazemos isso muitas vezes até sermos
confrontados com as duras circunstâncias que nos obrigam a mudar. “Uma
transformação sem esforço, nem dor, sem sofrimento, nem sensação de perda é
apenas uma ilusão de verdadeira mudança”. Por essa frase já podemos imaginar o
que nos espera.
Para quem se acha
mais forte e “protegido” sozinho, fica mais difícil aceitar que faz parte de um
Todo, na mesma proporção que a Tríade é uma Unidade. A parte consoladora é
saber que essa transformação, embora dolorosa, acontece com e pelo Amor divino
que não nos abandona e é paciente para esperar que estejamos preparados para a mudança.
Tony fez a sua travessia e não ficou à margem de si mesmo, pois apesar dos
erros que cometeu e de ter aproveitado muito pouco as oportunidades de
crescimento, ele experimentou a misericórdia divina, algo que para um homem dominado
pelo Ego era impensável.
O livro é um convite
para que façamos a nossa travessia, antes que seja tarde e enquanto ainda podemos ver
algumas flores germinarem no terreno do nosso coração.
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