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quarta-feira, 11 de março de 2015

“É o tempo da travessia...

Raíla Maciel

... e se não ousarmos fazê-la teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. 


A frase clássica de Fernando Pessoa já diz muito para os que sabem ler “além das palavras”; assim como o livro de Willian P. Youg – mais conhecido pela sua obra A Cabana.

A frase e o livro trazem sugestões desafiadoras, que podem até assustar quem ainda não se sente preparado para fazer essa tal travessia da vida. Mas, se você é um desses, não se preocupe, pois a experiência mostra que tudo acontece na hora certa.  Eu, por exemplo, ganhei esse livro no Natal de 2013, quando nem imaginava as reviravoltas que estavam por vir. Mais de ano passou até que resolvesse tirá-lo da estante. E não poderia haver momento mais ideal para absorver as lições dessa obra.

A Travessia conta a história de Tony, em empresário rico, frio e solitário que só confiava em pessoas que já estavam mortas. Ele sofreu um AVC e ficou em coma. Enquanto seu corpo estava na cama de um hospital entre a vida e a morte, o espírito de Tony viveu experiências inacreditáveis (como o encontro com Jesus, em pessoa), que o confrontaram com diversos conceitos que ele construiu ao longo da vida, que o afastaram da divindade e de tudo que ele amava.

Tony, que até então acreditava que tudo acabava com a morte, se depara com o que preferia ignorar e é levado a rever suas ideias. Nesse processo, o personagem passa por momentos de desespero, pois vê suas bases sendo abaladas e destruídas; conhece as experiências de outras pessoas que se entregam ao que ele mais repelia; e é levado assim a aceitar a verdade incontestável de que existe um Deus que olha por nós, ainda que não queiramos reconhecer a Sua presença e nos consideremos fortes e suficientes demais para aceitar algo superior a nós mesmos.

Tony acreditava em uma realidade que não era a Verdade. Esse era o seu inferno. Nós também vivemos nossos infernos ao construir muralhas, quando temos dores; ao supervalorizar o sofrimento; ao resistir à mudança; permanecer no erro e, principalmente, ao negar o que é parte de nós.

Um homem de 45 anos tinha feito do seu próprio coração um deserto, uma terra tão infértil, onde flores não cresciam e onde só Jesus, com seu Amor incondicional, conseguiu enxergar um potencial positivo. Nós também fazemos isso muitas vezes até sermos confrontados com as duras circunstâncias que nos obrigam a mudar. “Uma transformação sem esforço, nem dor, sem sofrimento, nem sensação de perda é apenas uma ilusão de verdadeira mudança”. Por essa frase já podemos imaginar o que nos espera.

Para quem se acha mais forte e “protegido” sozinho, fica mais difícil aceitar que faz parte de um Todo, na mesma proporção que a Tríade é uma Unidade. A parte consoladora é saber que essa transformação, embora dolorosa, acontece com e pelo Amor divino que não nos abandona e é paciente para esperar que estejamos preparados para a mudança. Tony fez a sua travessia e não ficou à margem de si mesmo, pois apesar dos erros que cometeu e de ter aproveitado muito pouco as oportunidades de crescimento, ele experimentou a misericórdia divina, algo que para um homem dominado pelo Ego era impensável.


O livro é um convite para que façamos a nossa travessia, antes que seja tarde e enquanto ainda podemos ver algumas flores germinarem no terreno do nosso coração. 

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