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segunda-feira, 8 de junho de 2009

Momento da poesia









Ternura

Vinicius de Moraes


Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.

Texto extraído da antologia "Vinicius de Moraes - Poesia completa e prosa

Um comentário:

  1. Anderson,
    Parabéns pelo blog. Vinicius é maravilhoso e o poema é lindo. Sou poeta e cronista e criei um blog para divulgar meu trabalho.Linkei você lá! Se puder, dê uma olhada. Se gostar pode me linkar. Seguem aí dois poemas! Grande abraço!

    SUJEITO OCULTO (VICTOR COLONNA)


    O problema são as conjunções desconjuntadas
    As interjeições rejeitadas
    Os adjetivos desajeitados
    Os substantivos sem substância
    As relações de deselegância entre as palavras.

    É preciso superar o superlativo:
    O absoluto sintético
    E o analítico.
    Achar o verso
    Entre o verbo epilético
    E o pronome sifilítico.

    Falta definir o artigo inoxidável
    O numeral incontável, impagável.

    Resta procurar o objeto direto
    Situar o particípio passado
    E o pretérito mais-que-perfeito

    Desvendar a rima
    Desnudar a palavra
    Encontrar o predicado
    E revelar o sujeito.


    CURTO-CIRCUITO (VICTOR COLONNA)


    De repente eu paro e olho: é ele!
    E desengato marcha-a-ré crescente
    Meu rosto fica roxo, vermelho
    E desamarra-se o elo da corrente.

    Curto-circuito, incêndio, tragédia!
    E meu cabelo arrepiado espeta
    E meu pulso desencapado te choca
    E meu corpo endiabrado, capeta.

    E meu peito pega fogo: vida
    Um calor que se desprende e solta
    Amor é caminho longo: é ida
    É só ida. Não tem volta.

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